UNIVERSIDADE
FEDERAL DA FRONTEIRA SUL -Campus Realeza/Pr
Curso:
Química- 3ª Fase
Disciplina:
Introdução à Filosofia
Professor
Me.
Acadêmicos:
Atividade de sala - Ficha de leitura –
3º semestre/2013 – Data 09/08/13
A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA
01- Evidencie os fatores que
contribuíram para a mudança da imagem do universo e as
consequências filosóficas destas mudanças.
R:
Hoje é comumente apontado como o período da “ revolução
científica”. Trata-se de um poderoso movimento de ideias que
adquire no século XVII suas características determinantes na obra
de Galileu, que encontra seus filósofos - em aspectos diferentes –
nas ideias de Bacon e Descartes e que depois encontrará a sua
expressão clássica na imagem newtoniana do universo concebido como
máquina , ou seja, como um relógio.
Os exemplos mais evidentes de
revoluções científicas são famosos episódios do desenvolvimento
científico que já no passado foram frequentemente indicados como
revoluções, reviravoltas fundamentais do desenvolvimento científico
ligadas aos nomes de Copérnico, de Newton, Lavoisier e de Einstein.
Esses episódios mostram em que consistem todas as revoluções
científicas, mais claramente do que muitos outros episódios, ao
menos quanto ao que se refere à história das ciências físicas.
Toda revolução tornou necessário o
abandono por parte da comunidade de uma teoria científica uma vez
honrada, em favor de outra incompatível com ela ; produziu,
consequentemente, uma mudança dos problemas a propor à pesquisa
científica e dos critérios segundo os quais a profissão
estabelecia o que se deveria considerar como problema admissível ou
como sua solução legítima . Quando os paradigmas mudam, o próprio
mundo toma novas direções. Mas o fato ainda mais importante é que,
durante as revoluções, os cientistas veem coisas novas e diversas
também quando olham com os instrumentos tradicionais nas direções
em que haviam olhado antes.
Elemento detonador desse processo de
ideias foi certamente a “ revolução astronômica “, que teve
seus representantes mais prestigiosos em Copérnico, Tycho Brahe,
Kepler e Galileu, e que iria confluir para a “ física clássica “
de Newton. Nesse período portanto muda a imagem do mundo. Peça por
peça, trabalhosa, mas progressivamente, caem por terra os pilares da
cosmologia aristotélica-ptolemaica: assim, por exemplo, Copérnico
coloca o sol no centro do mundo, ao invés da terra. Galileu mostra a
falsidade da distinção entre física terrestre e física celeste,
fazendo ver que a terra e, entre outras coisas, cria novos
fundamentos com a formulação do princípio de inércia ;Newton, com
sua teoria gravitacional, unificaria a física de Galileu com a de
Kepler; com efeito, do ponto de vista da mecânica de Newton, pode-se
dizer que as teorias de Galileu e de Kepler constituem boas
aproximações a certos resultados particulares obtidos por Newton.
Vinculada a essa transformação , está a mudança -que também foi
lenta e tortuosa, mas decisiva- das ideias sobre o homem, sobre a
ciência, sobre o homem de ciência, sobre o trabalho científico e
as instituições científicas, sobre as relações entre ciência e
sociedade, entre ciência e filosofia e entre saber científico e fé
religiosa.
02- Segundo o autor em que
consistiu a autonomia da ciência moderna em relação à fé e quais
são seus pressupostos filosóficos ?
R: O
traço mais característico desse fenômeno que é a ciência
moderna resume-se precisamente no método, que, por um lado, exige
imaginação e criatividade de hipóteses e, por outro lado, o
controle público dessas imaginações. Com base no método
experimental que se funda a autonomia da ciência :esta encontra suas
verdades independentemente da filosofia e da fé. Mas tal
independência não tarda a se transformar em confronto que, no
“caso Galileu”, torna-se tragédia.
André
Osiander apressou-se em escrever um prefácio sustentando que a
teoria copernicana –
contrária à cosmologia contida na Bíblia – não deve ser
considerada como descrição verdadeira do mundo, mas muito mais como
instrumento para fazer previsões.
E a Igreja católica processou duas
vezes Galileu, que seria condenado e forçado à abjuração. Entre
outras coisas, estamos diante de um confronto entre dois mundos ,
entre dois modos de ver a realidade, entre duas maneiras de conhecer
a ciência e a verdade. Para Copérnico, Kepler e Galileu, e a nova
teoria astronômica não é mera suposição matemática nem simples
instrumento de cálculo, embora útil para melhorar a feitura do
calendário, mas sim uma descrição verdadeira da realidade, obtida
através de um método que não esmola garantias fora de si mesmo. O
saber de Aristóteles é “pseudofilosofia” e a Escritura não tem
a função de nos informar sobre o mundo, mas é palavra de salvação
que apresenta um sentido para a vida dos homens.
03-
Faça uma síntese do subtítulo “Magia
e ciência moderna” (p.
145) estabelecendo relações (caso houver) entre elas.
R: A
historiografia recente e mais atualizada destacou com abundância de
dados a relevante presença da tradição mágica e hermética no
interior do processo que levou à ciência moderna.
Naturalmente, houve aqueles que como
Bacon ou Robert Boyle, criticaram a magia e a alquimia com toda a
dureza possível, ou aqueles que, como Pierre Bayle, investiram
contra as superstições da astrologia. Mas, em todos os casos, a
magia, a alquimia e a astrologia são ingredientes ativos do processo
que foi a tradição hermética, isto é, aquela tradição que,
referindo-se a Hermes Trismegisto, tinha como princípios
fundamentais o paralelismo entre o macrocosmo, a simpatia cósmica
e a concepção do universo como um ser vivo.
A revolução científica avançou
por um mar de ideias que nem sempre ou nem completamente
mostraram-se funcionais ao desenvolvimento da ciência moderna.
Assim, por exemplo, enquanto Copérnico se referia à autoridade de
Hermes Trismegisto para legitimar seu heliocentrismo, já Bacon
censura Paracelso não tanto por desertar a experiência, mas muito
mais por tê-la traído, corrompendo as fontes da ciência e
despojando a mente dos homens. E da mesma forma, os astrólogos
reagiram violentamente ao “novo sistema do mundo”. Com as
descobertas de Galileu, o mundo tornou-se maior, e a quantidade de
corpos celestes fez-se muito mais numerosa, de modo imprevisto e de
maneira considerável. Esse fato convulsionava os fundamentos da
astrologia. E os astrólogos se rebelaram.
Na
realidade, a progressiva afirmação da visão copernicana do mundo
reduzirá sempre mais o espaço da astrologia. Mas ela teve de lutar
também contra a astrologia. A ciência moderna, autônoma em relação
à fé, pública nos controles, regulada por um método, corrigível
em progresso, com uma linguagem específica e clara e com suas
instituições típicas, foi resultado de um longo e tortuoso
processo em que se entrelaçam a mística neoplatônica, a tradição
hermética, a magia, a alquimia e a astrologia.
A revolução científica não foi
marcha triunfal. E quando relacionamos e pesquisamos seus filões “
racionais” , não devemos deixar de atentar também para eventuais
contrapartidas místicas, mágicas, herméticas e ocultistas desses
filões.
04- A instituição da denominada
revolução cientifica na modernidade, requereu a união entre
ciência e técnica. Faça uma sistematização do texto (p. 146 à
149) apontando as principais causas dessa união, bem como, suas
consequências.
R: A
revolução cientifica cria o cientista experimental moderno
O resultado do processo cultural que
passou a ser denominado “revolução científica “foi uma nova
imagem do mundo que, entre outras coisas, propôs problemas
religiosos e antropológicos não indiferentes. Ao mesmo tempo,
representou a proposta de nova imagem da ciência; autônoma,
pública, controlável e progressiva.
A revolução científica foi,
precisamente, um processo: um processo que, para ser compreendido,
deve ser dissecado em todos os seus componentes, inclusive a tradição
hermética, a alquimia, a astrologia ou a magia, posteriormente
abandonadas pela ciência moderna, mas que, bem ou mal, influíram
sobre sua gênese ou, pelo menos, sobre seu desenvolvimento inicial.
É preciso, contudo ir mais além já que outra característica
fundamental da revolução cientifica é a formação de um saber –
a ciência, precisamente – que, ao contrário do saber medieval,
reúne teoria e prática, ciência e técnica, dando assim origem a
um novo tipo de “douto” bem diferente do filósofo medieval, do
humanista, do mago, do astrólogo, ou também do artesão ou do
artista da Renascença.
Esse novo tipo de douto gerado pela
revolução cientifica precisamente, não é mais o mago ou o
astrólogo possuidor de um saber privado ou de iniciados, nem o
professor universitário comentador e intérprete dos textos do
passado, e sim o cientista fautor de nova forma de saber, público,
controlável e progressivo, isto é, de uma forma de saber que, para
ser validado,necessita do contínuo controle da práxis, da
experiência. A revolução cientifica cria o cientista experimental
moderno, cuja experiência é o experimento, tornado sempre mais
rigoroso por novos instrumentos de medida, cada vez mais precisos. E
o novo douto frequentemente opera fora das velhas instituições do
saber, como as universidades.
A revolução cientifica: fusão da
técnica com o saber
As artes mecânicas eram consideradas
indignas de um homem livre. Mas, no processo da revolução
cientifica, essa separação foi superada: a experiência do novo
cientista é o experimento – e o experimento exige uma série de
operações e medidas. Sustentou- se que a ciência moderna, o saber
de caráter público, cooperativo e progressivo teria nascido
primeiro com os artesãos superiores para depois influir na
transformação das artes liberais.
Contra
esta tese se disse que a ciência não foi feita pelos artesãos e
pelos engenheiros, mas justamente pelos cientistas, Galileu ia ao
arsenal e , como ele próprio diz o colóquio com os técnicos do
arsenal “muitas vezes ajudou- me na investigação da razão de
efeitos não apenas maravilhosos, mas também recônditos e quase
imprevistos” . As técnicas, os achados e os processos presentes no
arsenal ajudaram a reflexão teórica de Galileu. E propuseram novos
problemas para ela: '' É verdade que, por vezes, até deixou- me
confuso e desesperado de saber como penetrar e seguir aquilo que,
longe de toda opinião minha, o sentido demonstra- me ser
verdadeiro''.
Foram os oculistas que descobriram o
fato de que duas lentes, dispostas de modo adequado, aproximam as
coisas distantes, mas não foram os oculistas que descobriram por que
as lentes funcionavam assim. E não foi nem mesmo Galileu. Para isso
foi preciso Kepler : foi ele quem compreendeu as leis de
funcionamento das lentes.
A reaproximação entre técnica e
saber, entre artesão e intelectual, fenômeno típico da revolução
cientifica. Pois bem, nós pensamos que essa aproximação, até
mesmo a fusão da técnica com o saber, constituem a própria ciência
moderna. Uma ciência que se baseia no experimento, por si mesma,
exige as técnicas de comprovação, as operações manuais e
instrumentais que servem para controlar uma teoria, sendo assim saber
unido à tecnologia.
Quem criou a ciência? A resposta
mais plausível parece-nos a de Koyré: foram os cientistas que
criaram a ciência. Mas ela surgiu e se desenvolveu também porque
encontrou toda uma base tecnológica, toda uma série de máquinas e
instrumentos que constituíam quase que uma base natural de testes,
oferecendo técnicas de comprovação e talvez até propondo novos,
profundos e fecundos problemas. O técnico é aquele que sabe que e,
amiúde, sabe também como. Mas é o cientista que sabe por que. Em
nossos dias, um eletricista sabe muitas coisas sobre as aplicações
da corrente elétrica e sabe como implantar um sistema, mas que
eletricista conhece por que a corrente funciona do modo como funciona
ou sabe alguma coisa sobre a natureza da luz?
A ciência moderna reúne teoria e
prática
A ciência é obra dos cientistas. A
ciência experimental convalida-se através dos experimentos. Estes
se realizam mediante técnicas de teste resultantes de operações
manuais e instrumentais com e sobre os objetos. A revolução
científica é precisamente aquele processo histórico do qual decore
a ciência experimental, vale dizer, uma nova forma de saber, nova e
diferente do “saber” religioso, do “metafísico”, do
“astrológico e mágico” e também do “técnico e artesanal”.
A ciência moderna, assim como se
configurou ao fim da revolução científica, não é mais o saber
das universidades, mas também não pode ser reduzida tampouco à
prática dos artesãos. Trata-se precisamente de um novo saber que,
reunindo teoria e prática, por um lado leva as teorias ao contato
com a realidade e as torna públicas, controláveis, progressivas e
fruto de colaboração, e, por outro lado, leva para dentro do saber
e do conhecimento. O “cientista” não é mais o douto que sabe
latim, que leu os livros antigos ou ensina em uma universidade. É
muito mais aquele que pertence a uma sociedade científica ou a uma
academia, as quais, junto com observatórios, laboratórios e museus,
constituem as novas instituições do saber, fora e por vezes contra
as Universidades.
E, no entanto, apesar dessas
rupturas, não devemos nos esquecer dos elementos de continuidade que
ligam a evolução científica ao passado. Trata-se do retorno a
autores e textos que podiam contribuir para a nova perspectiva
cultural: Euclides, Arquimedes, Vitrúvio, Heron e outros.
O reencontro do elo entre teoria e
pratica está vinculada a outro fenômeno evidente criado pela
revolução cientifica: estamos falando do fenômeno pelo qual o
nascimento e a fundação da ciência moderna acompanham-se de
súrbito crescimento da instrumentação .