terça-feira, 8 de outubro de 2013

UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL -Campus Realeza/Pr
Curso: Química- 3ª Fase
Disciplina: Introdução à Filosofia
Professor Me.
Acadêmicos:
Atividade de sala - Ficha de leitura – 3º semestre/2013 – Data 09/08/13
A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA

01- Evidencie os fatores que contribuíram para a mudança da imagem do universo e as consequências filosóficas destas mudanças.

R: Hoje é comumente apontado como o período da “ revolução científica”. Trata-se de um poderoso movimento de ideias que adquire no século XVII suas características determinantes na obra de Galileu, que encontra seus filósofos - em aspectos diferentes – nas ideias de Bacon e Descartes e que depois encontrará a sua expressão clássica na imagem newtoniana do universo concebido como máquina , ou seja, como um relógio.
Os exemplos mais evidentes de revoluções científicas são famosos episódios do desenvolvimento científico que já no passado foram frequentemente indicados como revoluções, reviravoltas fundamentais do desenvolvimento científico ligadas aos nomes de Copérnico, de Newton, Lavoisier e de Einstein. Esses episódios mostram em que consistem todas as revoluções científicas, mais claramente do que muitos outros episódios, ao menos quanto ao que se refere à história das ciências físicas.
Toda revolução tornou necessário o abandono por parte da comunidade de uma teoria científica uma vez honrada, em favor de outra incompatível com ela ; produziu, consequentemente, uma mudança dos problemas a propor à pesquisa científica e dos critérios segundo os quais a profissão estabelecia o que se deveria considerar como problema admissível ou como sua solução legítima . Quando os paradigmas mudam, o próprio mundo toma novas direções. Mas o fato ainda mais importante é que, durante as revoluções, os cientistas veem coisas novas e diversas também quando olham com os instrumentos tradicionais nas direções em que haviam olhado antes.
Elemento detonador desse processo de ideias foi certamente a “ revolução astronômica “, que teve seus representantes mais prestigiosos em Copérnico, Tycho Brahe, Kepler e Galileu, e que iria confluir para a “ física clássica “ de Newton. Nesse período portanto muda a imagem do mundo. Peça por peça, trabalhosa, mas progressivamente, caem por terra os pilares da cosmologia aristotélica-ptolemaica: assim, por exemplo, Copérnico coloca o sol no centro do mundo, ao invés da terra. Galileu mostra a falsidade da distinção entre física terrestre e física celeste, fazendo ver que a terra e, entre outras coisas, cria novos fundamentos com a formulação do princípio de inércia ;Newton, com sua teoria gravitacional, unificaria a física de Galileu com a de Kepler; com efeito, do ponto de vista da mecânica de Newton, pode-se dizer que as teorias de Galileu e de Kepler constituem boas aproximações a certos resultados particulares obtidos por Newton. Vinculada a essa transformação , está a mudança -que também foi lenta e tortuosa, mas decisiva- das ideias sobre o homem, sobre a ciência, sobre o homem de ciência, sobre o trabalho científico e as instituições científicas, sobre as relações entre ciência e sociedade, entre ciência e filosofia e entre saber científico e fé religiosa.


02- Segundo o autor em que consistiu a autonomia da ciência moderna em relação à fé e quais são seus pressupostos filosóficos ?

R: O traço mais característico desse fenômeno que é a ciência moderna resume-se precisamente no método, que, por um lado, exige imaginação e criatividade de hipóteses e, por outro lado, o controle público dessas imaginações. Com base no método experimental que se funda a autonomia da ciência :esta encontra suas verdades independentemente da filosofia e da fé. Mas tal independência não tarda a se transformar em confronto que, no “caso Galileu”, torna-se tragédia.
André Osiander apressou-se em escrever um prefácio sustentando que a teoria copernicana – contrária à cosmologia contida na Bíblia – não deve ser considerada como descrição verdadeira do mundo, mas muito mais como instrumento para fazer previsões.
E a Igreja católica processou duas vezes Galileu, que seria condenado e forçado à abjuração. Entre outras coisas, estamos diante de um confronto entre dois mundos , entre dois modos de ver a realidade, entre duas maneiras de conhecer a ciência e a verdade. Para Copérnico, Kepler e Galileu, e a nova teoria astronômica não é mera suposição matemática nem simples instrumento de cálculo, embora útil para melhorar a feitura do calendário, mas sim uma descrição verdadeira da realidade, obtida através de um método que não esmola garantias fora de si mesmo. O saber de Aristóteles é “pseudofilosofia” e a Escritura não tem a função de nos informar sobre o mundo, mas é palavra de salvação que apresenta um sentido para a vida dos homens.

03- Faça uma síntese do subtítulo “Magia e ciência moderna” (p. 145) estabelecendo relações (caso houver) entre elas.

R: A historiografia recente e mais atualizada destacou com abundância de dados a relevante presença da tradição mágica e hermética no interior do processo que levou à ciência moderna.
Naturalmente, houve aqueles que como Bacon ou Robert Boyle, criticaram a magia e a alquimia com toda a dureza possível, ou aqueles que, como Pierre Bayle, investiram contra as superstições da astrologia. Mas, em todos os casos, a magia, a alquimia e a astrologia são ingredientes ativos do processo que foi a tradição hermética, isto é, aquela tradição que, referindo-se a Hermes Trismegisto, tinha como princípios fundamentais o paralelismo entre o macrocosmo, a simpatia cósmica e a concepção do universo como um ser vivo.
A revolução científica avançou por um mar de ideias que nem sempre ou nem completamente mostraram-se funcionais ao desenvolvimento da ciência moderna. Assim, por exemplo, enquanto Copérnico se referia à autoridade de Hermes Trismegisto para legitimar seu heliocentrismo, já Bacon censura Paracelso não tanto por desertar a experiência, mas muito mais por tê-la traído, corrompendo as fontes da ciência e despojando a mente dos homens. E da mesma forma, os astrólogos reagiram violentamente ao “novo sistema do mundo”. Com as descobertas de Galileu, o mundo tornou-se maior, e a quantidade de corpos celestes fez-se muito mais numerosa, de modo imprevisto e de maneira considerável. Esse fato convulsionava os fundamentos da astrologia. E os astrólogos se rebelaram.
Na realidade, a progressiva afirmação da visão copernicana do mundo reduzirá sempre mais o espaço da astrologia. Mas ela teve de lutar também contra a astrologia. A ciência moderna, autônoma em relação à fé, pública nos controles, regulada por um método, corrigível em progresso, com uma linguagem específica e clara e com suas instituições típicas, foi resultado de um longo e tortuoso processo em que se entrelaçam a mística neoplatônica, a tradição hermética, a magia, a alquimia e a astrologia.
A revolução científica não foi marcha triunfal. E quando relacionamos e pesquisamos seus filões “ racionais” , não devemos deixar de atentar também para eventuais contrapartidas místicas, mágicas, herméticas e ocultistas desses filões.

04- A instituição da denominada revolução cientifica na modernidade, requereu a união entre ciência e técnica. Faça uma sistematização do texto (p. 146 à 149) apontando as principais causas dessa união, bem como, suas consequências.
R: A revolução cientifica cria o cientista experimental moderno
O resultado do processo cultural que passou a ser denominado “revolução científica “foi uma nova imagem do mundo que, entre outras coisas, propôs problemas religiosos e antropológicos não indiferentes. Ao mesmo tempo, representou a proposta de nova imagem da ciência; autônoma, pública, controlável e progressiva.
A revolução científica foi, precisamente, um processo: um processo que, para ser compreendido, deve ser dissecado em todos os seus componentes, inclusive a tradição hermética, a alquimia, a astrologia ou a magia, posteriormente abandonadas pela ciência moderna, mas que, bem ou mal, influíram sobre sua gênese ou, pelo menos, sobre seu desenvolvimento inicial. É preciso, contudo ir mais além já que outra característica fundamental da revolução cientifica é a formação de um saber – a ciência, precisamente – que, ao contrário do saber medieval, reúne teoria e prática, ciência e técnica, dando assim origem a um novo tipo de “douto” bem diferente do filósofo medieval, do humanista, do mago, do astrólogo, ou também do artesão ou do artista da Renascença.
Esse novo tipo de douto gerado pela revolução cientifica precisamente, não é mais o mago ou o astrólogo possuidor de um saber privado ou de iniciados, nem o professor universitário comentador e intérprete dos textos do passado, e sim o cientista fautor de nova forma de saber, público, controlável e progressivo, isto é, de uma forma de saber que, para ser validado,necessita do contínuo controle da práxis, da experiência. A revolução cientifica cria o cientista experimental moderno, cuja experiência é o experimento, tornado sempre mais rigoroso por novos instrumentos de medida, cada vez mais precisos. E o novo douto frequentemente opera fora das velhas instituições do saber, como as universidades.
A revolução cientifica: fusão da técnica com o saber

As artes mecânicas eram consideradas indignas de um homem livre. Mas, no processo da revolução cientifica, essa separação foi superada: a experiência do novo cientista é o experimento – e o experimento exige uma série de operações e medidas. Sustentou- se que a ciência moderna, o saber de caráter público, cooperativo e progressivo teria nascido primeiro com os artesãos superiores para depois influir na transformação das artes liberais.
Contra esta tese se disse que a ciência não foi feita pelos artesãos e pelos engenheiros, mas justamente pelos cientistas, Galileu ia ao arsenal e , como ele próprio diz o colóquio com os técnicos do arsenal “muitas vezes ajudou- me na investigação da razão de efeitos não apenas maravilhosos, mas também recônditos e quase imprevistos” . As técnicas, os achados e os processos presentes no arsenal ajudaram a reflexão teórica de Galileu. E propuseram novos problemas para ela: '' É verdade que, por vezes, até deixou- me confuso e desesperado de saber como penetrar e seguir aquilo que, longe de toda opinião minha, o sentido demonstra- me ser verdadeiro''.
Foram os oculistas que descobriram o fato de que duas lentes, dispostas de modo adequado, aproximam as coisas distantes, mas não foram os oculistas que descobriram por que as lentes funcionavam assim. E não foi nem mesmo Galileu. Para isso foi preciso Kepler : foi ele quem compreendeu as leis de funcionamento das lentes.
A reaproximação entre técnica e saber, entre artesão e intelectual, fenômeno típico da revolução cientifica. Pois bem, nós pensamos que essa aproximação, até mesmo a fusão da técnica com o saber, constituem a própria ciência moderna. Uma ciência que se baseia no experimento, por si mesma, exige as técnicas de comprovação, as operações manuais e instrumentais que servem para controlar uma teoria, sendo assim saber unido à tecnologia.
Quem criou a ciência? A resposta mais plausível parece-nos a de Koyré: foram os cientistas que criaram a ciência. Mas ela surgiu e se desenvolveu também porque encontrou toda uma base tecnológica, toda uma série de máquinas e instrumentos que constituíam quase que uma base natural de testes, oferecendo técnicas de comprovação e talvez até propondo novos, profundos e fecundos problemas. O técnico é aquele que sabe que e, amiúde, sabe também como. Mas é o cientista que sabe por que. Em nossos dias, um eletricista sabe muitas coisas sobre as aplicações da corrente elétrica e sabe como implantar um sistema, mas que eletricista conhece por que a corrente funciona do modo como funciona ou sabe alguma coisa sobre a natureza da luz?

A ciência moderna reúne teoria e prática

A ciência é obra dos cientistas. A ciência experimental convalida-se através dos experimentos. Estes se realizam mediante técnicas de teste resultantes de operações manuais e instrumentais com e sobre os objetos. A revolução científica é precisamente aquele processo histórico do qual decore a ciência experimental, vale dizer, uma nova forma de saber, nova e diferente do “saber” religioso, do “metafísico”, do “astrológico e mágico” e também do “técnico e artesanal”.
A ciência moderna, assim como se configurou ao fim da revolução científica, não é mais o saber das universidades, mas também não pode ser reduzida tampouco à prática dos artesãos. Trata-se precisamente de um novo saber que, reunindo teoria e prática, por um lado leva as teorias ao contato com a realidade e as torna públicas, controláveis, progressivas e fruto de colaboração, e, por outro lado, leva para dentro do saber e do conhecimento. O “cientista” não é mais o douto que sabe latim, que leu os livros antigos ou ensina em uma universidade. É muito mais aquele que pertence a uma sociedade científica ou a uma academia, as quais, junto com observatórios, laboratórios e museus, constituem as novas instituições do saber, fora e por vezes contra as Universidades.
E, no entanto, apesar dessas rupturas, não devemos nos esquecer dos elementos de continuidade que ligam a evolução científica ao passado. Trata-se do retorno a autores e textos que podiam contribuir para a nova perspectiva cultural: Euclides, Arquimedes, Vitrúvio, Heron e outros.
O reencontro do elo entre teoria e pratica está vinculada a outro fenômeno evidente criado pela revolução cientifica: estamos falando do fenômeno pelo qual o nascimento e a fundação da ciência moderna acompanham-se de súrbito crescimento da instrumentação .

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